A vila, que também é um vale, escorrega entre uma as montanhas Penha e Cangaíba, fluindo pelo corguinho Tiquatira, mas que no mapa não tem nome, nem títulos, uma linha azul que segue a rua larga. Essa sim, rasga o bairro em dois pedaços, atados por escadinhas abismais que unem os mundos separados por um fluxo de metal e velocidade.
Quando narro, reencontro não só a vila, mas as personagens de muitas eras que são contadas e encantadas nas avozinhas que trazem de memórias os anos, os nomes, as genealogias, as mãozinhas enrugadas, mapas secretos que guiam nossas orelhas pelo tempo.
A vila, que sempre foi sinônimo de casa, se apresenta misteriosa e convidativa para os olhos errantes. Pede calma, espera, ela nos convida a ficar e criar raiz. Descubro em mim mesma histórias de aranha a enrolar atenta sua teia, arremato as memórias como um bordado de afetos que cruza as minhas infâncias, e me preparo para contar.

Era uma vez uma vila no vale.